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Alba Zaluar

Alba Zaluar foi uma dessas personalidades que jamais deixou de expressar o que pensava, de interpelar as noções arraigadas e de senso comum e de se comprometer com temas relevantes na história do país. Desde a juventude, o interesse pelas dinâmicas culturais e políticas nacionais se manifestou na sua proximidade com a União Nacional de Estudantes, junto às atividades no Centro Popular de Cultura. Esse era o momento em que cursou a graduação em Ciências Sociais na Faculdade Nacional de Filosofia, concluída em 1965. Reduto universitário conhecido pela efervescência da militância política estudantil, a Faculdade Nacional de Filosofia foi objeto da instauração de Inquérito Policial Militar após o Golpe de 1964, situação que, como já é bastante sabido, veio a arriscar a segurança pessoal e a permanência no Brasil de muitos jovens talentosos. Alba e seu então marido, em contexto de risco de perseguição e de prisão, mudaram para a Inglaterra tendo lá permanecido de 1965 a 1971. A vida no exílio e com filhos pequenos não esmoreceu a energia de Alba que iniciou estudo de Pós-Graduação na Universidade de Manchester, experiência a que ela atribuía grande importância nas suas escolhas teóricas e metodológicas. Ela costumava dizer que foi em Manchester que formou a forja que estruturou sua trajetória e a sua carreira. Seja pela qualidade multidisciplinar, ou pelo apreço e rigor da pesquisa empírica, o convívio com a Antropologia Social (onde o grupo de Max Gluckman era muito ativo), com a Sociologia Urbana e com História Social constituiu a base da sua contribuição no deciframento etnográfico da violência urbana no Brasil. Essa estadia proveitosa resultou, anos depois, na organização da coletânea Desvendando as Máscaras Sociais (Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1975) que reúne textos clássicos sobre dimensões variadas da pesquisa antropológica, obra de referência até hoje em cursos de graduação. Quando voltou ao Brasil, ela concluiu seu curso de mestrado no Museu Nacional (UFRJ) sob a orientação de Roberto da Matta, em 1974, com uma pesquisa que retomou criticamente os estudos de comunidade, através da análise de promessas e festas para santos, chamando atenção para impacto prático do catolicismo popular. Essa dissertação foi publicada no livro Os Homens de Deus: um estudo dos santos e das festas no catolicismo popular (Rio de Janeiro: Zahar, 1973). Em 1979, ela ingressou no doutorado do Programa de Antropologia Social da USP, sob a orientação de Eunice Ribeiro Durhan. Em uma de suas entrevistas, Alba assinala que no período, além do aprofundamento da formação antropológica, discutiu mais detidamente conceitos de Ciência Política (em um momento de revisão das teses de Althusser) e pôde articular seu interesse sobre processos sociais e culturais com a discussão sobre o futuro do Brasil e sobre a democratização. Foi no doutorado que ela realizou a primeira pesquisa empírica de fôlego na Cidade de Deus que resultou na tese defendida em 1984 e na publicação de um dos estudos mais ricos sobre o cotidiano, as aspirações, os valores, as manifestações associativas e recreativas de uma população exposta à pobreza e à violência. Na linhagem da crítica à Teoria da Marginalidade e ao conceito de cultura da pobreza, A Máquina e a Revolta (São Paulo: Brasiliense, 1984 – a 3.a edição em 2002) traz uma análise pioneira a expor, nos moldes qualitativos da investigação antropológica, o início das organizações criminosas do tráfico de drogas, bem como a retroalimentação entre a dinâmica dessas organizações e a polícia. O livro não se resume, porém, à exposição dramática desse cenário violento. Nele, Alba mostrou o vigor da vida cultural e política local, fazendo com que essa seja uma das etnografias mais importantes sobre movimentos sociais urbanos no final da ditadura militar e início da redemocratização. Em meados da década de 70, Alba passou a ser professora do Departamento de Antropologia da Unicamp onde defendeu, em 1991, a Livre Docência com a tese, publicada em 1994, Cidadãos não vão ao Paraíso (Campinas: Editora da Unicamp, 1994). Em seguida, ela se aposentou da Unicamp e ingressou como docente de Antropologia no Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Medicina Social da UERJ, tendo se tornado Professora Titular, em 1995. Em 1996, ela publicou Condomínio do Diabo (Rio de Janeiro: Revan/Editora da UFRJ, 1996) e Da Revolta ao Crime S.A. (Rio de Janeiro: Moderna, 1996). Todos esses livros, ao que caberia acrescentar Violência, Cultura e Poder (Rio de Janeiro: FGV Editora, 2000) e A Integração Perversa: pobreza e tráfico de drogas (Rio de Janeiro: FGV Editora, 2004) trazem resultados de pesquisas quantitativas e qualitativas sobre políticas públicas para combater a violência urbana e minimizar os efeitos da criminalidade, e acompanham de modo sistemático as articulações paradoxais entre corrupção política e policial e a organização criminosa nos moldes do mercado capitalista contemporâneo. Suas contribuições analíticas andam par a par com a ênfase no bom material empírico, feito a partir de pesquisa de campo e documental e com a coragem de não sucumbir à ingenuidade ou a um atalho intelectualista que recorre, no caso de diversos estudos antropológicos, ao relativismo cultural. Alba assumia posições e não se intimidava diante de uma boa polêmica. Prova disso está na produção adensada de artigos em jornais de expressão nacional como O Globo, o Jornal do Brasil e a Folha de São Paulo (na qual foi colunista semanal entre 2006 e 2008). Importante remarcar que Alba foi uma profissional com significativo trânsito internacional, seja como visiting professor em Stanford ou Berkeley, seja nas variadas participações em congressos e como palestrante e também era integrante do Conselho Editorial da ABA desde 2013. Em 2012, Alba Zaluar recebeu o Prêmio Roquete Pinto da Associação Brasileira de Antropologia.

 

Principais Trabalhos Acadêmicos

  • ZALUAR, Alba. A máquina e a revolta: as organizações populares e o significado da pobreza. In: A máquina e a revolta: as organizações populares e o significado da pobreza. 2002. p. 265.

  • ZALUAR, Alba; ALVITO, Marcos. Um século de favela. FGV Editora, 1998.

  • ZALUAR, Alba. Integração perversa: pobreza e tráfico de drogas. FGV Editora, 2004.

  • ZALUAR, Alba. Cidadäos näo väo ao paraíso: juventude e política social. 1994. p. 208.

  • ZALUAR, Alba; ALVITO, Marcos. Um século de favela. FGV Editora, 1998.

  • ZALUAR, Alba. Condomínio do diabo. Editora Revan, 1994.

  • ZALUAR, Alba. Da revolta ao crime SA. Editora Moderna, 1996.

  • ZALUAR, Alba. Democratização inacabada: fracasso da segurança pública. Estudos avançados, v. 21, p. 31-49, 2007.

  • ZALUAR, Alba. Violência, cultura e poder. Violência e estilos de masculinidade. Rio de Janeiro: FGV Editora, p. 7-33, 2004.

  • ZALUAR, Alba. Um debate disperso: violência e crime no Brasil da redemocratização. São Paulo em perspectiva, v. 13, p. 3-17, 1999.

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Referências
GREGORI, Maria Filomena. Associação Brasileira de Antropologia - ABA. Consultado em 22 de março de 2023. 

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