
Marco Aurélio Garcia faz, e continuará a fazer, muita falta. Falta do refinado intelectual engajado e humanista. Falta do militante político e dirigente partidário profundamente comprometido com o combate às desigualdades sociais e com a construção de um socialismo democrático. Falta do brilhante historiador do trabalho e das esquerdas que encantava seus alunos com sua erudição e desprendimento. Falta do gestor público fundamental para a construção de uma política externa que encheu de orgulho os brasileiros e colocou o país no centro da agenda internacional. Falta do cáustico senso de humor que deliciava amigos e desconcertava adversários. Marco Aurélio Garcia, o MAG, como era conhecido, nasceu em 22 de junho de 1941. Militante do movimento estudantil, aderiu ao Partido Comunista do Brasil (PCB) no final dos anos 1950. Foi vice-presidente da União Nacional dos Estudantes entre 1961 e 62. Após o golpe de 1964, aderiu à Dissidência do Partido Comunista no Rio Grande do Sul e, em seguida foi um dos fundadores do POC (Partido Operário Comunista). Em 1967, ele e a socióloga Elizabeth Lobo, com quem era casado, partiram para a França. Chegaram a voltar para o Brasil e depois foram para o Chile durante o governo da Unidade Popular liderado por Salvador Allende. Com o golpe de 1973, exilaram-se definitivamente na França, onde completaram sua formação acadêmica. De volta ao Brasil, com a Anistia em 1979, MAG passou a lecionar no Departamento de História da Unicamp, onde foi figura fundamental na constituição do Arquivo Edgard Leuenroth como principal centro de documentação da história do trabalho brasileira. Marco Aurélio também foi um dos grandes divulgadores das obras dos historiadores marxistas britânicos como Eric Hobsbawm e E.P.Thompson. No contexto da redemocratização brasileira, foi fortemente impactado pelas greves metalúrgicas do ABC paulista e pela emergência dos movimentos sociais de uma maneira geral. Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, tornando-se um de seus principais intelectuais e dirigente políticos. Atuou particularmente na área das relações internacionais, tendo papel destacado na construção do Foro de São Paulo. Foi também Secretário de Cultura de governos petistas nas prefeituras de Campinas e de São Paulo. Com a vitória de Lula em 2002, Marco Aurélio tornou-se Assessor Especial de Relações Internacionais da Presidência da República e foi um dos pilares da política exterior do país nos governos de Lula e Dilma. Tornou-se, assim, um dos principais articuladores e um dos nomes mais conhecidos e admirados da esquerda latino-americana no início do século XXI. Um infarto fulminante tirou a vida de Marco Aurélio Garcia na manhã dia 20 de julho de 2017.
Principais Trabalhos Acadêmicos
-
GARCIA, Marco Aurelio. A opção sul-americana. Interesse Nacional, v. 1, n. 1, p. 22-28, 2008.
-
GARCIA, Marco Aurelio. Nuevos gobiernos en América del Sur. Nueva Sociedad, v. 217, p. 118-126, 2008.
-
GARCIA, Marco Aurélio. O gênero da militância: notas sobre as possibilidades de uma outra história da ação política. cadernos pagu, n. 8/9, p. 319-342, 1997.
-
GARCIA, Marco Aurélio. Arquitectura político-institucional de la integración. Desarrollo e integración en América Latina. Santiago: CEPAL, 2016. LC/G. 2674. p. 35-52, 2016.
-
GARCÍA, Marco Aurélio. The strategic partnership between Brazil and the European Union. Partnerships for Effective Multilateralism: EU Relations with Brazil, China, India and Russia. Chaillot Paper, v. 109, p. 49-57, 2008.
-
GARCIA, Marco Aurélio. Socialismo no século XXI. 2018.
-
GARCIA, Marco Aurélio. O que está em jogo em Honduras. Política Externa, v. 18, n. 3, p. 123-129, 2009.
-
GARCIA, Marco Aurélio. A transição e a constituinte. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, v. 1, p. 16-19, 1985.
-
GARCIA, Marco Aurélio. Simone de Beauvoir e a política. cadernos pagu, n. 12, p. 79-91, 1999.
-
GARCIA, Marco Aurélio. The gender of militancy: notes on the possibilities of a different history of political action. Gender & History, v. 11, n. 3, p. 461-474, 1999.