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Mariza Correa

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Formada em jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1969, ingressou no mestrado em ciências sociais, em 1973, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde defendeu a dissertação “Os atos e os autos: representações jurídicas de papéis sexuais”, em 1975, da qual vou falar daqui a pouco.(...) Em março de 1976, Mariza passou a integrar o corpo docente do Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, onde desenvolveu extensa carreira, completa em todos os sentidos (da pesquisa à extensão, da docência à administração universitária). De 1978 a 1982,cursou na USP o doutorado em Ciência Política, sob a orientação da Professora Ruth Corrêa Leite Cardoso, com a tese – As ilusões da liberdade – a Escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil, defendida em 1982.(...) Mariza foi muito ativa em mostrar que era preciso arquivar e preservar a documentação da ABA, um material tão rico para a história da disciplina. Essa documentação da ABA, assim como o material escrito e audiovisual da sua pesquisa sobre a história da antropologia está abrigada no Arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp.(...) Um dos pontos altos no debate feminista é o cadernos pagu, criados por ela. Vejam a modéstia até no nome da publicação: cadernos, com minúscula e não uma revista, um periódico. Mariza teve um papel central na organização de alguns dos números e dos dossiês dessa publicação, que é um marco nos estudos de gênero no Brasil, na medida em que coloca a produção nacional sobre o tema lado a lado com a produção realizada em outros países, propiciando a tradução de artigos seminais sobre o assunto e, a partir de 2015, passa a ser publicada somente online e parcialmente bilíngue.(...) Ser uma das fundadoras do Núcleo de Estudos de GêneroPagu, bem como do cadernos pagu, mostra sua capacidade de liderança e sua sintonia com temas contemporâneos. Seria preciso ainda mencionar que no CV Lattes, que Mariza atualizou pela última vez em 2010, há 26 títulos de artigos publicados em periódicos e 26 capítulos em coletâneas.(...) Na Associação Brasileira de Antropologia (ABA), a Professora Mariza Corrêa integrara, antes de presidi-la, as diretorias encabeçadas pelos professores Roberto Cardoso de Oliveira (1984-1986), como tesoureira; João Pacheco de Oliveira Filho (1994-1996), como Diretora Regional; e, na gestão do Professor Antonio Augusto Arantes Neto (1988-1990), presidiu a comissão organizadora da XVI Reunião Brasileira de Antropologia. Integrou o Conselho Científico de 1984 a 1988 e foi Presidente da ABA de 1994-1996. Desde 2000, na qualidade de ex-presidente, passou a integrar o conselho vitaliciamente. Foi também através de seu trabalho sobre a história da nossa disciplina e de nossa associação que a documentação da ABA foi acolhida no Arquivo Edgard Leuenroth. Mariza Corrêa foi Diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp (1989-1993), marcando a história como a primeira mulher a dirigir o instituto, além de todos os outros cargos de chefia e coordenação que exerceu no Departamento de Antropologia e na área de Gênero do Doutorado em Ciências Sociais. Presidiu a coleção “Gênero e Feminismo” da Editora da Unicamp e foi membro de corpo editorial dos seguintes periódicos: cadernos pagu, Etnográfica (Lisboa), Revista Brasileira de Sociologia das Emoções, Revista Três (...) Pontos, Revista Estudos Feministas, Revista de Antropologia, Estudos Afro-Asiáticos, Anuário Antropológico, Revista Brasileira de Ciências Sociais, entre outros periódicos. Nas agências de financiamento de pesquisas foi representante da área de antropologia na Coordenação de Ciências Humanas e Sociais da FAPESP, membro da Comissão de Avaliação na Área de Antropologia da CAPES, representante da Antropologia no Conselho Técnico-Científico da CAPES e membro do comitê acadêmico da ANPOCS. Mariza formou mais de 50 pesquisadores em mestrado e doutorado. Seu primeiro orientando foi o nosso querido Nelson Perlonguer que sob sua orientação concluiu o mestrado em 1986, dissertação que virou o livro O Negocio do Michê –A Relação entre o Prostituto Viril e Seu Cliente, bibliografia básica para a pesquisa sobre sexualidade. Heloisa André Pontes, sua orientanda de mestrado é hoje uma referência básica nos estudos sobre antropologia da cultura, da mesma forma que Adriana Piscitelli, entre seus antigos orientandos, é uma referência nos estudos sobre gênero e prostituição. O mais jovem dos seus orientandos, Marcos Santana de Souza, teve a sua pesquisa de doutorado –“Sou policial, mas sou mulher: gênero e representações sociais na Polícia Militar de São Paulo”–contemplada com o Prêmio Capes de Tese 2015 na área de Sociologia. A vasta e arguta cultura juntamente com a inteligência sensível e sagaz de Mariza conquistaram seus colegas e também seus alunos e orientandos, que compõem uma geração de brilhantes antropólogos, atuando em diferentes universidades brasileiras e que reconhecem terem dela recebido os maiores estímulos intelectuais e profissionais, como é possível ver nas homenagens que estão sendo a ela prestadas.(...) Como já disse, Mariza concluiu graduação em jornalismo em Porto Alegre com 22 anos. Depois de formada trabalhou como repórter num jornal em Porto Alegre e contava que fazia de tudo: desde reportagens sobre casamentos de cigano até assaltos à mão armada. Com o cientista político Plínio Dentzien foi para Minas Gerais e, trabalhando ainda como jornalista, conviveu com os professores do Departamento de Ciência Política na UFMG, em que Plínio atuava como docente. Também ali como jornalista era a única mulher em um jornal dos Diários Associados. Trabalhou depois em São Paulo na revista Veja, da Editora Abril, que, de início, era uma revista polêmica importante no momento da ditadura, mas por razões políticas, a editora trocou boa parte da equipe de seus jornalistas. Mariza voltou para Porto Alegre e em seguida foi para Michigan, acompanhando Plínio, que fez um estágio naquela universidade. Isso tudo para dizer que Mariza não foi alguém que saiu da graduação e entrou no mestrado. Ela tinha muita experiência vivida e por isso até hoje estamos falando do seu livro, resultado de pesquisa no mestrado. Imagino que a experiência com o feminismo norte-americano foi fundamental para definir seus interesses de pesquisa no mestrado.(...) A antropologia da Unicamp desafiava a antropologia tradicional estudando clínicas de aborto, SOS mulher, michê prostituição etc. Pesquisar o tribunal do júri era uma novidade e havia sempre os gatekeepers, empenhados em proteger a antropologia do que é tido como desvios temáticos. É uma pena, mas estão aí até hoje dizendo que o que fazemos não é antropologia. É sociologia, ciência política ou direito. Antonio Augusto Arantes, Verena Stolcke e Peter Fry, pais fundadores da Antropologia da Unicamp, desafiam essa estreiteza a que se queria reduzir a área. Mariza apontou o interesse do fazer antropológico no estudo de grupos sociais e na análise de documentações outras que não aquelas que de início definiram o que era o trabalho antropológico. (...) A retidão de seu caráter e a delicadeza de Mariza no tratamento humano deixam um legado não só intelectualmente desafiador, mas que torna cada um de nós herdeiros da construção e aperfeiçoamento de instituições que ampliam os horizontes do trabalho acadêmico nas ciência sociais brasileiras.

 

Principais Trabalhos Acadêmicos

  • CORREA, Mariza. Antropólogas e Antropologia. 1. ed. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003. v. 1. 278p 

  • CORREA, Mariza. História da Antropologia no Brasil (1930-1960). Testemunhos: Emílio Willems e Donald Pierson. Campinas: Editora da Unicamp/Editora Vértice, 1987. 127p .

    CORREA, Mariza. Morte Em Familia: Representacoes Juridicas de Papeis Sexuais. RIO DE JANEIRO: GRAAL, 1983. 00315p .

  • CORREA, Mariza. Verbete: Honra. In: Associação Brasileira de Antropologia e Fundação FORD. (Org.). Antropologia e diretito: temas antropológicos para os estudos jurídicos. Blumenau: Editora Nova Letra, 2008, v. , p. -.

  • CORREA, Mariza. Nossos mulatos são mais exuberantes. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. prelo, p. 1-5, 2008

  • CORREA, Mariza. A babá de Freud e outras babás. Cadernos Pagu (UNICAMP), v. 29, p. 61-90, 2007.

  • CORREA, Mariza. Revista de Antropologia: 1953-2003. Uma revista para muitas histórias. Revista de Antropologia (São Paulo), v. 46, p. 369-381, 2003.

  • CORREA, Mariza. O sexo da dominação. Novos Estudos. CEBRAP, São Paulo, v. 54, 1999.

  • CORREA, Mariza. Uma pequena voz pessoal. Cadernos Pagu (UNICAMP), Campinas, v. 12, 1998.

  • CORREA, Mariza. An Interview with Roberto Cardoso de Oliveira. Current Anthropology, v. 32, n.3, 1991.

Referências

  1. DEBERT, Guita Grin. Gênero, História da Antropologia e Construção Institucional. Homenagem a Mariza Corrêa. cadernos pagu, 2018. Consultado em 25 de janeiro de 2023.

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